quarta-feira, 15 de julho de 2015

HASHIMADA: Uma visão pessoal de como a depressão quase destruiu o mundo.

PARTE 1.

Todos nós sabemos como as coisas começaram e terminaram entre os dois, mas para minha eterna tristeza o arco Hashirama e Madara foi muito pouco trabalhado na franquia e só nos resta ligar os pontos. No caso deles, por falta de informação os pontos podem ser ligados de infinitas maneiras diferentes com sentimentos e implicações diferentes. Como fã, e para fã, vou contar aqui o que hoje eu tenho como minha versão favorita de explicação dos fatos. Vou procurar nesse textinho apontar o que eu acredito serem peças chaves na construção dos respectivos personagens e como tudo deu no que deu na minha cabeça e é nóis.

Bom, eu prefiro começar essa análise de um ponto de vista em que eu me sinta mais confortável haha, então vejamos…

Madara tinha a personalidade perfeita para fazer o que o mundo esperava que ele fizesse: tomar decisões e liderar. O cara era um gênio do caralho, e num equilíbrio louco entre o que sentia e o que pensava o cara era um líder fantástico. O mundo sabia disso, o Clã Uchiha sabia disso, e ele sabia disso. Em um solo fértil pra ele se desenvolver ao máximo, Madara construiu sua reputação e sem precisar esconder que sabia que era incrível. Humildade nunca foi seu forte mesmo.

Tudo corria mais ou menos bem só que não. Na Era dos Estados em Guerra, nem viver era fácil. Priorizar um objetivo não era exatamente uma opção e podia significar a diferença entre o sucesso e a morte, sua ou dos seus. Não havia exatamente muito tempo para conversar sobre sentimentos, todo mundo compartilhava do mesmo ódio e aparentemente só isso importava. Todo o resto não tinha muita relevância, ainda mais num campo de batalha. Amor? HAHA.

Madara devia mesmo ser incrível nisso. Esconder sentimentos, manter a cabeça no lugar e fazer aquilo que esperavam dele. E ele fez isso a vida inteira. 



Só que no começo… funcionava. No começo sua intuição, instinto, inteligência, experiência e equilíbrio faziam toda a diferença nas decisões que tomava, e por bastante tempo ele teve certeza de ser o melhor pra decidir tudo, por si e pelos outros. Quanto aos seus próprios sentimentos, desejos e vontades, ele podia lidar com isso, ignorá-los era quase rotina. 

Aí algo deu muito errado. Tipo, errado pra caralho.

Madara nunca exatamente superou a morte de Izuna. Não importa de que ângulo vocês olhem isso. 
Acho que o ponto chave está no quanto isso influenciou tudo, e por tudo eu quero dizer tudo mesmo. Alguma coisa quebrou seriamente, o chão sumiu e acho que por um bom tempo ele não soube o que fazer. Nenhum pai ensinava seus filhos a lidarem intimamente com seus sentimentos mais obscuros, com seus demônios internos, e para seu desespero, Madara era péssimo nisso. 

A morte de Izuna trouxe a tona tudo aquilo que ele já sabia mas nunca fez questão de entender. Ele era tão bom, e no entanto seus irmãos estavam mortos. Mas ele era o melhor para tomar decisões, e no entanto seus irmãos estavam mortos. Mas ele tinha calculado tudo certo, e no entanto seus irmãos estavam mortos. Para aceitar a morte de Izuna, ele precisaria olhar a situação de frente, e isso significava abrir mão de muitas certezas, questionar muitas verdades, analisar seus piores conflitos pessoais, aceitar suas fraquezas e aprender a e se perdoar. Mas ninguém se importou em ensinar isso a ele, e lidar com autodecepção não era parte de sua natureza. O tempo também não ajudava, os problemas continuavam aí, ele continuava líder do Clã. Todos podiam ficar desesperados com o que aconteceu, mas Madara não podia se dar a esse luxo, Madara não podia ficar triste. Alguém tinha que manter a cabeça no lugar, afinal ele era responsável por todo mundo ali.


Nesse momento ele resolveu pegar tudo aquilo que era ruim e difícil, tudo aquilo que era doloroso e obscuro e enfiar numa caixa marcada como pendente, mas que ele nunca tinha a real intenção de mexer algum dia. Ele abriu mão de uma parte de si para manter as coisas funcionando, mas agora nem sempre era fácil ignorar tudo aquilo que estava involuntariamente guardado lá dentro. Esse é um dos pontos chaves onde pra mim, o Madara é bem diferente do Hashirama. O Senju não tinha problemas em ser sincero sobre seus sentimentos consigo e com os outros. Hashirama era sempre muito espontâneo, e provavelmente nem sabia o que era uma caixa sentimental pendente.




As coisas não melhoraram muito com a Fundação de Konoha.

Com Hashirama tudo tinha sido sempre diferente. E aquilo sempre foi algo incrível na vida de Madara desde o primeiro encontro dos dois, ele compartilhava pautas, relatórios e objetivos com as pessoas de seu Clã, mas com Hashirama ele compartilhava um sonho. O Senju não esperava dele o que todos esperavam, ele não queria um líder militar inabalável, ele queria aquilo que era humano, aquilo que importava, aquilo que Madara tentava enterrar de si próprio o tempo todo. 

Madara não sabia lidar com isso, ele sabia que seu amor por Hashirama era legítimo,  e mesmo ali, depois de tudo aquilo, ele ainda sabia disso. Mas toda vez que tentava interpretar seus sentimentos ele esbarrava na caixa pendente. Aquela mesma com toda a dor, toda a culpa. Madara não se permitia ser feliz. Afinal, como poderia? Como poderia se permitir viver feliz depois de ter falhado com todos os seus irmãos? Talvez ele até sentisse alguma raiva inexplicável quando Hashirama tinha a oportunidade de expressar todo aquele amor que sempre fora mais que óbvio. Talvez ele se odiasse toda vez que se permitia sentir completo quando cedia a suas próprias vontades e amava Hashirama de volta. Talvez ele se sentisse sujo depois de cada momento íntimo compartilhado. E pior ainda ao lembrar que se sentia bem e feliz em todos eles. A bem verdade é que a insistência do outro só tornava afogar os seus próprios sentimentos algo ainda mais difícil. Involuntariamente, Hashirama forçava Madara a lidar de um jeito ou de outro com tudo aquilo que ele não queria lidar. 

E bem, isso foi enquanto Madara ainda conseguia, de fato, sentir alguma coisa.